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Um lamento, muito baixinho, o "Rilhas" deixou-nos para sempre

 

Fui apanhado de surpresa, quando o meu amigo, Zé Pereira, me mandou um email anunciando o falecimento do Armando Costa, bem conhecido na nossa comunidade por "Rilhas".

"Dizes-me tu, Amigo Zé, - "O Rilhas morreu! Estou que nem sei que pensar. Mundo ingrato!"

É verdade. Mais um baluarte da democracia, justiça social e um expoente máximo da amizade e camaradagem, que partiu...de vez.

Ficamos mais pobres pois já só nos restam poucos desta fibra onde se concentrava um soberbo caráter, humildade e veia artística de grande grandeza.

Tanto fez pela comunidade e esta nunca lhe agradeceu ou lhe reconheceu os méritos quiçá pela sua simplicidade e por tudo fazer pelo seu amigo, vizinho, conterrâneo e acima de tudo pela sua comunidade sem que quisesse tomar vantagens ou lucros dessas suas ações desinteressadas. No entanto outros há que nada fizeram e foram elevados e agraciados com comendas e outros títulos e honras. É a ingratidão...que tu mencionas, Zé!

Do Rilhas, admirava-lhe o sorriso permanente e sempre aberto estampado no rosto não havendo à sua volta sentimentos de tristeza pois tudo era alegria. Foi também um artista consagrado, dos bons, que a nossa comunidade se pode orgulhar de possuir e um desportista nato como poucos.

Mas, meu amigo Zé Pereira, a vida tem destas reviravoltas, ou vicissitudes, que nos deixa, por vezes, como é no caso presente, atónitos e em estado de desespero e revolta ao mesmo tempo. Mas, foi o Criador, e à Sua Omnipotência, nós devemo-nos curvar e resignar.

Fico ainda a pensar que seria tão bom que o Rilhas ficasse mais uns tempos junto de nós onde era estimado, e admirado também, por muitos dos membros da nossa comunidade que tiveram o privilégio de o  conhecer, de o ver nos jogos que participou durante tantos anos e tantas alegrias nos deu, de ouvir as suas interpretações na canção nacional e, acima de tudo de com ele conviver.

Estamos os dois, amigo Zé, tu e eu, bem tristes por este nosso comum amigo que acaba, de nos deixar. Ficará, no seu lugar, um vazio difícil de se preencher mas tentemos sufocar a dor com algo mais positivo. Não foi o "Mundo ingrato", como afirmas, mas sim a vontade daquele que embora muitos não acreditem mas que penso que  deve existir e que no governa, o Deus do Além. Ele assim quis e assim se fez. Vamos tentar pensar nas alegrias que usufruímos enquanto o Rilhas esteve entre nós mas é, confesso, quase impossível esquecê-lo."

Estive ontem, terça-feira, na casa funerária onde o seu féretro  repousava em câmara ardente, para lhe dizer o ultimo adeus e tive a perceção de quanto era popular este nosso membro com dezenas e dezenas para não exagerar nas centenas, os amigos, e admiradores também, que ali alinhavam à espera de vez para passarem defronte da urna. A sala estava totalmente coberta com camisolas desportivas de diversos clubes ou onde foi jogador,  ou treinador, com muitos, pois uma das suas paixões era o futebol tendo sido, alguns anos atrás, treinador nalguns clubes locais e de seleções na Líbia do então coronel Gaddafi. Registámos também a presença duma equipa de juniores com o seu equipamento de futebol, de Brampton, para dizer o último adeus a este excelente desportista.

A sua família trazia no peito, sobre a cor preta do luto, o cravo vermelho, da Revolução de Abril, que ele, o Rilhas foi um grande apoiante pelas suas ideias mais abertas e progressistas, de amor ao próximo, de compaixão e fraternidade. Para ele o mundo tinha que mudar num caminho que levasse à justiça social mais balançada e de ajuda ao próximo. Era uma utopia mas ele, o Rilhas, acreditava nisso e deste modo, enquanto entre nós, olhou sempre em frente na esperança de ver, um dia, esse "milagre" consumado.    

Fico, no fim de contas, a pensar cá com os meus botões, nas palavras do amigo Zé Pereira, depois de ver esta presença em massa de tantos amigos e admiradores na prestação do último adeus. Porque nunca ninguém se lembrou de o homenagear enquanto pertenceu ao "mundo" dos vivos? Porque foi tanta, e tanta gente, agraciada com honrarias, medalhada e com dedicados saraus e jantares para lhes serem entregues essas distinções e condecorações? Alguns eram, até ali, uns cidadãos totalmente desconhecidos pois nunca se ouviu falar deles tal foi a ausência e participação na sua comunidade. E o nosso Rilhas que ao longo da sua vida o fez a título gracioso? Ficou esquecido. Aqui está a razão da palavra "INGRATIDÃO" que o amigo Zé Pereira deixou na sua mensagem de alerta...

Como português e membro da comunidade lusa, aqui radicada no Canadá, sinto-me orgulhoso de termos tido um Armando Costa, Rilhas para todos, no nosso seio que só nos engrandeceu e elevou bem alto o nome de Portugal.
Paz à sua alma e as minhas sinceras condolências à família enlutada.

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